Eu tinha entre 18 e 19 anos. Estava na casa da namorada, sábado, tomando uma com a sogra. Como fazia todo fim de semana. Hemerson, irmão de Rita, sai do quarto com a prancha sob o braço. "Bora pra praia". "Mas agora, Hemerson? Tá foda o sol". "Agora, entrou uma ondulação e essa é a hora". Não gostei muito da idéia, era quase 11h. O sol de rachar. Fazer o que? Vamos nessa. Como minhas duas pranchas ficavam lá direto, foi fácil.
Hemerson ainda disse que a ondução vinha crescendo há dias, na sexta e no sábado seria o topo. Depois baixaria. Ele disse que estava enchendo a maré e tava côco na beira. Mas rolava uma parede boa, uns tubos e a onda tava grande. Entenda-se 1.5m. Resolvi levar uma prancha fodida que eu tinha. Que já tinha sido quebrada e consertada.
Chegando na praia foi um visual de sonho. Pouca gente na água e muitos fora dela. Fiquei sem entender porque, mas depois de entrar saquei tudo. O drop estava insano. Era descer, achar o trilho, correr a onda em uma, duas batidas, talvez um floater e chegar na areia. A onda tinha muita pressão. Rolava tubos, mas só pros mais cascas. Se atrasasse dentro, rodada com a onda e prancha numa profundidade que não passava de meio metro. Ou seja, se não desse de cara ou costas no fundo, poderia ser a prancha o objeto a bater. Era o risco. Mas muitos atrasavam o drop e já desciam dentro.
Eu tinha uns 18, 19 anos. Frequentava Ponta Negra desde o primeiro ano de vida. O Morro do Careca era calvo. Comecei a surfar ainda moleque de body board e prancha de ponta de isopor. Depois de fibra. Eu era local. Mas geralmente a molecada não respeitava ninguém. Tudo bem que eles surfavam melhor que eu. Davam aéreos, 360 normal e reverse, soltavam a rabeta da prancha abrindo aquele leque na crista da onda. Mas eu era/sou tão surfista quanto eles, afinal surfar é deslizar pela onda. E eu sei fazer isso bem.
Mas porque eles não estavam na água? Porque as ondas estavam grandes e fechando. Não dava para eles destilarem seu repertório futurista. E aquela altura o que importava era o feeling, sentir a onda e o que ela podia proporcionar. O drop já valia a pena, porque se descesse atrasado, era quase em pé. E a possibilidade de descer reto de cara na água era grande, ou se jogar da prancha de bunda.
Depois de várias ondas com poucas pessoas na água, mas uma bela platéia assistindo da escadaria, remei numa onda, esperei até o último momento e fiquei de pé. Antes de chegar na base cai. Só não sabia porque. E foi feia a queda. De cara na água. Quando subi a superfície, vi a causa. A prancha partiu ao meio. Onde já tinha sido consertada por mim e Hemerson. Sai da água com as duas bandas ligadas só pela fibra da superfície. Mas feliz da vida, foi mais um dia inesquecível. Hora de voltar pras cervejas e relaxar.